segunda-feira, setembro 15, 2008

Ai, palavras, ai, palavras! Que estranha potência a vossa...

Blogagem Colectiva para Flávia em 9/Set/2008Por que mundo precisa saber de Flávia? Não seria mais interessante publicarmos textos de amor, saudade, utilidades, futilidades, inutilidades? Quem vai querer ler nossa revolta e e entender nosso apoio à Odele? Não importa que poucos leiam. Importa é que muitos publiquem e saibam porque o fazem. Não podemos deixar que a justiça durma ou sequer cochile. Temos, sim, que cutucar, perguntar, argumentar, reclamar, protestar, nos fazermos ouvir. Porque a "senhora" Justiça não pode permanecer para sempre cega, surda e muda. Não se trata de sentirmos pena de Odele ou de Flávia. São guerreiras, as duas!! Dignas de admiração pela força, coragem e capacidade de sobrevivência. Quantos de nós conseguiríamos manter a lucidez e o equilíbrio que Odele demonstra? Diz o ditado que "a justiça tarda mas não falta" e nesse caso nem deveria tardar. Flávia é a vítima, e a justiça se faz urgente! O poder judiciário é moroso - dizem - mas, estranhamente, rápido e eficaz quando convém. Dez anos não terá sido tempo mais que suficiente? Será que Flávia terá de esperar ainda mais dez anos por JUSTIÇA?Tiradentes foi julgado e condenado em 3 anos. Isso em 1789, época em que não havia todo o aparato tecnológico e comunicativo que há hoje. Três anos e pronto. Julgado, condenado, punido em lugar de todos os que "se atreveram a falar em liberdade - que ninguém sabe o que seja".
Há dez anos, Flávia espera. Odele espera. A sociedade brasileira espera. E enquanto esperamos, vamos continuar cutucando para que a Justiça não durma. Vamos continuar incomodando, lembrando à toda hora que Flávia existe. Flávia é filha de Odele, mas poderia ser minha filha. Poderia ser sua filha. Poderia ser filha de um dos responsáveis pelo "acidente". Poderia ser filha de um membro do Congresso ou do Poder Judiciário. Ah, mas aí... aí talvez as coisas andassem mais rápido...
Tomo agora, a liberdade de transcrever alguns versos de Cecília Meireles, n 'O Romanceiro da Inconfidência. Quem tiver ouvidos, ouça. Quem tiver olhos, que leia. Quem consciência, que entenda

Na mesma cova, as palavras
e o secreto pensamento,
as coroas e os machados
mentiras e verdade estão
Não choraremos o que houve
nem os que chorar queremos
contra rocas de ignorância
rebenta nossa aflição.
Choraremos esse mistério
esse esquema sobre-humano
a força, o jogo, o acidente
da indizível conjunção
que ordena vidas e mundo
sem pólos inexoráveis
de ruína e de exaltação
Ó silenciosas vertentes
por onde se precipitam
inexplicáveis torrentes
por eterna escuridão!
(...)
ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência a vossa!
ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e se transforma!
sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!
ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...
a liberdade das almas,
ai! com letras se elabora...
e dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro
e mais que o aço poderosa!
reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...

2 comentários:

Anônimo disse...

Shamatar, não importa quantos leiam. Importa, sobretudo, a união da blogosfera em torno de uma causa nobre. Parabéns pela sua excelente participação e obigado por me permitir matar a saudade desses belos versos da Cecília Meirelles.

Anônimo disse...

Olá passando para ler sua adesão.
Assim conseguimos ler o que cada um postou. São diversos pensamentos em um unico objetivo.
A união faz a força. Justiça!! A morosidade precisa terminar.precisamos dessa blogagem coletiva estou aqui com você vestindo a camisa.
Beijos na sua alma.