Lembranças
Esfriou tanto que chega a doer nos ossos. Tradicionalmente a noite mais fria do ano está fazendo jus à fama. O ar gelado me amortece os dedos e retrai as costas - amanhã com certeza vou acordar dolorida. Aqui, solstício de inverno. No hemisfério norte, solstício de verão. Datas mágicas, repletas de significados místicos, de rituais de fertilidade e agradecimentos pela fartura e abundância. Desde pequena que as festas juninas são as minhas preferidas. Lembro das festas que fazíamos na rua de casa. Meu pai instalava o microfone e os alto-falantes, a rua toda se movimentava para o acontecimento. A mesa comunitária repleta de gostosuras feitas de milho, coco e amendoim, o cheiro e o calor da fogueira, iluminando a noite e deixando nossos rostos corados. Lanterninhas e bandeirinhas feitas pela criançada, com papel de seda e cola de farinha de trigo. Naquele tempo, soltavam-se balões e era uma emoção vê-los subindo até se confundirem com as estrelas. Quadrilha dançada por todos, vestidos a caráter, bombinhas e estralinhos. Não podia faltar o "leite de onça" - batida feita pela dona Adelaide, mãe da Eliane - que nós, crianças, dávamos "só uma provadinha, pra não ficar com vontade". Tenho lembrança de tudo. Do mastro com as imagens dos santos, da "capelinha" montada com bambuzinhos e flores-de-são-joão, onde se realizava o casamento caipira, com
noiva de buquê de couve-flor e noivo casando com uma espingarda nas costas. Não sei até que horas ia a festa, mas lembro que os últimos se reuniam em torno da fogueira, já quase que apenas brasas, para ouvir contar as histórias de mistério e repartir a batata-doce e o milho verde assados. Quando a fogueira se apagava, íamos para casa. E eu, com a alma impregnada de cores, sons, luzes, cheiros e sabores, deixava de lado o chapéu com fitas e dormia o sono bom das crianças felizes.
Um comentário:
Aqui temperatura amena : 30graus ..
E aí , tudo bem ???
Apareça pra me visitar .. e os jabutis como estao ??
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